Quem faz a cabeça da classe C, ou das assim
chamadas novas classes médias?
Segundo Renato Meirelles, do Datapopular, os
amigos, muito mais que a Globo ou outras emissoras de TV.
O pesquisador participou do seminário sobre o
Mercado Futuro da Comunicação, promovido pela AlterCOM (Associação Brasileira
de Empresas e Empreendedores da Comunicação), e surpreendeu a plateia com os
resultados das pesquisas que faz.
Meirelles constatou, por exemplo, que as pessoas
das classes A e B ainda têm certa dificuldade de lidar com a ascensão social
alheia. Num levantamento em que foram ouvidas 18.365 pessoas, algumas das
respostas que surpreenderam, de acordo com um slide apresentado por ele:
Para 55,3% dos entrevistados, os produtos deveriam
ter versões para ricos e para pobres;
48,4% acham que a qualidade dos serviços piorou
com o maior acesso da população;
62,8% se incomodam com o aumento das filas
originados pela ampliação do acesso;
49,7% preferem ambientes com pessoas do mesmo
nível social;
17,1% acham que todos os lugares deveriam ter
elevadores separados (para ricos e pobres);
26,4% acham que metrô aumenta o número de pessoas
indesejáveis na região;
17,1% consideram que pessoas mal vestidas deveriam
ser barradas em certos lugares.
Isso explica, em parte, a preocupação com a “gente
diferenciada”, que invadiria o Higienópolis se uma estação de metrô fosse
construída no bairro.
O Datapopular calcula que as novas classes médias
representam um mercado de 1 trilhão de reais.
Meirelles divide a classe C em duas turmas:
C1, para os que têm renda individual entre R$
770,50 e 1.249,99 mensais.
C2, entre R$ 291,00 e 770,49 mensais.
De acordo com os números apresentados por
Meirelles, a classe C não reproduz o padrão das classes A e B e prefere
produtos nacionais aos importados (nacionais preferidos por 62% na classe C,
25% nas classes A e B).
Pesquisar preço é um hábito comum (88% dos
entrevistados da classe C o fazem), mas adotado pela minoria nas classes A e B
(44%).
Em termos de consumo, a propaganda mais eficaz nas
novas classes médias é feita no boca-a-boca (65%), o que já não funciona tanto
na classe A (19%). Meirelles atribui isso às redes de solidariedade que se
formam especialmente entre amigos e vizinhos.
Outro dado interessante, obtido a partir da
pesquisa de hábitos de compra: a elite compra mais produtos “vagabundos” que a
classe C. Meirelles atribui isso ao fato de que, no supermercado, quem tem mais
dinheiro não se preocupa tanto com a qualidade de produtos que não vai usar
diretamente, como os de limpeza, comprados para uso das empregadas domésticas.
Com a classe C ascendem também os negros, que
assumem um novo papel de protagonismo econômico (representam, hoje, um mercado
de 673 bilhões de reais).
Na classe A, em cada 100 reais gastos pela
família, os jovens são responsáveis por 11.
Na classe C, em cada 100 reais gastos pela
família, os jovens são responsáveis por 53.
Na classe A, só 10% dos filhos têm mais educação
formal que os pais.
Na classe C, 68%.
Por conta da maior taxa de fertilidade, há mais
jovens na classe C. Relativamente aos pais, gastam mais e estudam mais.
Portanto, têm um papel social mais relevante dentro da família.
O conjunto de dados indica, segundo Renato
Meirelles, que os jovens, as mulheres e os negros são os novos protagonistas no
cenário econômico e político do Brasil.
Onde é que eles se informam?
Mais na internet do que na TV aberta.
No passado, lembrou Meirelles, se dizia que a TV
era a janela para o mundo. A internet é vitrine. Onde a classe C se mostra e
quer ser vista.
O Datapopular vai divulgar um estudo em fevereiro
demonstrando que a universalização da banda larga teria um papel tão importante
quanto a do ensino fundamental para as novas classes médias.
Frase de Renato Meirelles a partir dos dados sobre
as novas classes médias e a internet: “A manipulação da edição do debate
eleitoral de 1989 (entre Fernando Collor e Lula, pela Globo) seria impossível
hoje”.